Os sensores estão assumindo um papel de destaque cada vez maior na criação das cidades inteligentes. A tendência das chamadas construções inteligentes acelerou consideravelmente o desenvolvimento dos sensores na última década. E com o avanço das tecnologias de IoT (Internet das Coisas), o protagonismo dos sensores está aumentando, principalmente no que tange ao monitoramento de utilities, como energia elétrica, gás e água, além dos sensores urbanos para monitorar problemas como trânsito, estacionamento, poluição, chuvas e ruídos, entre outros.
Além de ajudar os governos municipais a operar de forma mais eficiente, o uso de sensores está mudando a forma como estamos reestruturando as nossas cidades. A cidade de Santander, na Espanha, implementou um projeto com mais de 12 mil sensores urbanos que medem tudo. O sistema integrado atua mensurando desde a quantidade de lixo nas lixeiras até o número de vagas de estacionamento disponíveis.
Muitos dos sensores que medem os níveis de poluição do ar e as condições do trânsito foram instalados em veículos públicos de alta circulação, como carros de polícia e táxis. Os dados desses sensores são armazenados em nuvem e são analisados em tempo real, permitindo ao governo da cidade uma melhor tomada de decisões. Santander também está abrindo seus dados para que novos empreendedores da cidade possam criar aplicativos, rentabilizando a economia local e gerando novos empregos.
Barcelona possui uma solução (pública) chamada Sentilo, que já está 100% implementada. Trata-se de uma plataforma que otimiza o desempenho urbano por meio de uma rede integrada de sensores. Criado em 2012, o projeto é considerado uma das melhores plataformas de código aberto para cidades inteligentes do mundo atualmente. Isso quer dizer que as informações estão disponíveis para qualquer empresa ou cidadão que queira utilizá-las, similarmente ao projeto de Santander.
A plataforma monitora, em tempo real, todos os sensores instalados na cidade, observando desde o fluxo de tráfego até o ruído ambiente. Seguindo o conceito de economia compartilhada, qualquer empresa ou pessoa que tenha um sensor instalado na cidade pode conectá-lo à plataforma. Dubai já está pilotando o sistema Sentilo no seu megaprojeto chamado Smart Dubai.
Mas não é somente o setor público que está avançando neste mercado. Como solução privada no segmento de sensores para Smart Cities podemos destacar o Streetline. A plataforma está ajudando as cidades a resolver o problema da disponibilidade de estacionamento fornecendo dados inteligentes em tempo real e análises avançadas. A solução já foi implementada em 30 cidades nos Estados Unidos. Reino Unido e Alemanha também já iniciaram projetos usando o Streetline.
Essa solução foi desenvolvida com base na hipótese de que cerca de 30% do tráfego urbano consiste em motoristas que procuram lugares de estacionamento. O Streetline desenvolveu um algoritmo para coletar e monetizar dados não estruturados. A empresa é capaz de coletar e classificar vários tipos de dados de sensores no solo, câmeras de trânsito e redes wi-fi, reunindo essas informações para criar um mapa de espaços de estacionamento e sinalizando se os pontos estão ocupados ou vazios.
A solução também analisa os dados históricos coletados ao longo do tempo para determinar padrões de estacionamento, permitindo que cidades precifiquem as vagas de estacionamento urbano de acordo com seu valor real, com base na oferta e na demanda, de forma similar às regras do setor imobiliário. De posse desses dados, as cidades podem ajudar a reduzir o congestionamento, orientando os motoristas para o espaço de estacionamento disponível mais próximo. As aplicações em tempo real e os históricos desse sistema também permitem que as cidades façam uso dos dados para melhorar o planejamento e a política de estacionamento a médio e longo prazos.
Baseado em tecnologias similares, algumas cidades usam o sistema para criar uma precificação dinâmica das vagas disponíveis. Dependendo da disponibilidade e demanda, o preço do estacionamento público sobe ou baixa automaticamente. Los Angeles foi umas das cidades pioneiras nesse conceito. Foram instalados 6.000 sensores em 800 ruas da cidade. Como resultado, somente 27% das vagas disponíveis sofreram um aumento de preços, contra mais de 60% das vagas que tiveram os preços reduzidos. Segundo dados oficiais do município, houve uma redução de 10% no congestionamento na cidade. E isso é bastante para LA, considerada a cidade mais congestionada do mundo, segundo o relatório da INRIX de 2018.
Praticamente todos os grandes players do mercado de tecnologia estão investindo em soluções de IoT baseadas em sensores para cidades inteligentes. Desde empresas mais tradicionais, no setor de soluções eletrônicas, como Sony, Panasonic, Xerox e Samsung, às empresas de telecomunicações, como Verizon, Vivo, Tim e Vodafone, estão fortemente na corrida do desenvolvimento dessas soluções.
Até mesmo as grandes empresas de armazenamento em nuvem como Amazon Web Services, Microsoft e Google já estão neste mundo, com soluções específicas para tratar os dados de IoT urbano. Existe, assim, uma excelente oportunidade para as cidades brasileiras atraírem investimentos e parcerias com essas empresas para o desenvolvimento e teste de novas soluções.
Mas nem tudo são flores ao falar do assunto. Por tratarem-se de dados coletados livremente de locais públicos, as regras de coleta, manutenção, divulgação, uso e comercialização destes dados ainda não estão bem definidas. Isso pode acarretar em problemas políticos e jurídicos para a cidade e seus gestores públicos. A ameaça de hackers e o vazamento de informação serão cada vez mais reais conforme as cidades forem se conectando. Nunca esqueça: projetos sérios de segurança cibernética devem acompanhar todo e qualquer processo de cidade inteligente. Sem falar também no risco potencial do chamado IoTrash – lixo resultante do IoT.
Fonte: Renato de Castro, Blog UOL - Cidades Mais Inteligentes
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